sábado, 30 de outubro de 2010

Martha Medeiros

Não tenho como escapar: um ano após os atentados, vou falar sobre o quê? Sobre o Red Hot Chili Peppers? A imprensa às vezes vira refém de certas datas. Tal qual a gente. Comemoramos secretamente o aniversário do primeiro beijo, da primeira transa, de todas as primeiras coisas bacanas que nos aconteceram. E das ruins também, das vezes em que as torres que construímos dentro de nós foram derrubadas.
Cada sonho nosso foi construído andar por andar, e teve vezes em que ultrapassamos as nuvens, erguemos nossos prédios do milênio, mais altos que qualquer prédio de Cingapura, Shangai, Nova York. A psicanálise fala em castelos. É mais ou menos isso: sonhos aparentemente concretos.
Já tive torres internas que foram ao chão. Torres altas demais para mim, torres que nem chegaram a ficar concluídas (as de dentro nunca se concluem), torres que me exigiram esforço e que me deram prazer, até que alguém, com uma frase, ou com um gesto, as fez virem abaixo. Tinha gente dentro, tinha eu.
Torres são visíveis, monumentais: viram alvo. Um projeto empolgante demais, uma paixão incontrolável demais, um desejo ardente demais, idéias ameaçadoras demais: tudo isso sai da linha plana da existência, coloca-nos em evidência, a gente acha que os outros não percebem, mas percebem, e que ninguém se assusta, mas se assustam. Quem nos derruba? A nossa vulnerabilidade.
Tem gente que perde um grande amor. Perde mais de um, até. E perde filhos, pais e irmãos. Tem gente que perde a chance de mudar de vida. E há os que perdem tempo. Os anos passam cada vez mais corridos, os aniversários se repetem. Tem gente que viu sua empresa desmoronar, sua saúde ruir, seu casamento ser atingido em cheio por um petardo altamente explosivo. Tem gente que achava que iria ter a chance de estudar mais tarde e não estudou. E tem os que acharam que iriam ganhar uma medalha por bom comportamento e não receberam nem um tapinha nas costas.
E no entanto ainda estamos de pé, porque não ficamos apenas contando os meses e os anos em que tudo se passou. Construímos outras torres no lugar. Não ficamos velando eternamente os atentados contra nossa pureza original. As novas torres que erguemos dentro serão sempre homenagens póstumas às nossas pequenas mortes e uma prova de confiança em nossas futuras glórias.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Clarice Lispector

“…uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteiro, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, espararei quanto tempo for preciso.”

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

M&M Vermelho

Tem gente à beça no mundo. Dessas bilhões, somente centenas (quando tanto) chamam nossa atenção ao longo da vida. Gostamos de dezenas. Nos importamos verdadeiramente com, vamos ver, uma dúzia no máximo. Amamos muito poucas, quando amamos.
A probabilidade de encontrar alguém que nos desperte esse sentimento é a mesma de encontrar o M&M vermelho em época de promoção: mínima, mas a esperança nos mantém abrindo pacotinhos. De vez em quando cansamos e nos conformamos com os azuis e os amarelos. Mas, no íntimo, pensamos em quão delicioso seria descobrir o vermelho. Em qual sensação provar o amor nos traria. Elucubramos, sonhamos acordados – mas a vida continua e não se pode viver de sonhos.
Eventualmente esquecemos o bem-fadado vermelhinho e sacamos que a felicidade está em se entregar à cor que se tem ou não se entregar a cor nenhuma (viver sozinho, para alguns, é um alento. Pra mim, um tormento). Desencanamos desse papo de amor: uns por acharem que o encontraram – ou por terem-no encontrado de verdade -, outros por acharem que não existe. E tem os desesperados, compulsivos por abrir pacotinhos (o que é, diga-se, um ótimo meio de ficar infeliz). Enfim: nos acostumamos com o que criamos para nós, afinal cada um escolhe a história que quer viver. E se o enredo não for dos melhores, não adianta culpar os atores – quem escolheu o elenco foi você. Quem escreveu as falas ridículas também. Transferir responsabilidade é muito feio, já te disseram isso?
Daí, no meio de uma atividade banal qualquer – andar pela calçada, passear com o cachorro, jantar fora – alguém nos oferece, despretensiosamente, um pacotinho de M&M. Aceitamos, qual o problema? Nessa altura já nem nos lembramos do papo, outrora tão presente, sobre o vermelho: o assunto morreu por falta de água. Rasgamos o pacotinho e… O que é isso?! É ele. Com sua cor vibrante, sua magia. Não, não era sonho: ele existe e está, nesse instante, em suas mãos. E a promoção está em vigor. Não é o máximo?!
Então tudo o que desejamos pode se tornar realidade. A alegria de acordar com alguém e adorar observar seu rosto mesmo com marcas de travesseiro. A vontade de que o final de semana se anuncie logo e as horas juntos se multipliquem (sabe o sintoma mais evidente do fim de uma relação? Quando nos pegamos torcendo para a chegada da segunda-feira). A dor de estômago que se dá só de pensar em viver sem o sorriso acolhedor e as pequenas trapalhadas. Diante daquele vermelho, finalmente temos a certeza: tudo isso pode ser nosso.
É impossível não ficar bobo-alegre. A vida que levamos até então pode ter sido boa, mas nada comparada à descoberta do amor que sempre acreditamos existir. Mesmo quando fingimos não acreditar. Ficamos inebriados, e nesse atordoamento, prestamos atenção demais em nossos delírios e cometemos um erro gigante: paramos de prestar atenção no M&M vermelho. Sem querer. É como bicho de estimação: enchemos de mimos e cuidados nas primeiras semanas, mas, com o tempo, ele faz tão parte de nossa vida que não nos damos mais conta de sua real importância e diminuímos, sem notar, a atenção e o carinho. Descuidamos. E é aí que acontece: M&M cai no bueiro. Ou outra pessoa passa por nós e, como se nada fosse, o tira de nossas mãos. Quando notamos, o perdemos.
E como dói lembrarmos como era bom. Ou poderia ter sido.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Oi, tudo bem? Imagino que sim, afinal aí onde você está parece ser um lugar muito confortável... Acontece que um belo dia você virá para o lado de cá. Eu sei que eu só tenho 17 anos, e estou longe de ser a pessoa mais bem vivida do mundo, mas existem algumas coisas que eu preciso te contar.
1- Nem tudo é como você quer. Nem sempre querer é poder.
2- Um dia você vai se decepcionar com alguém. Esse dia não chega com aviso prévio. Reze pra se decepcionar com qualquer um, menos com você mesmo.
3- Nenhum minuto se repete. Pode haver momentos parecidos, mas iguais, nunca. É uma regra que nunca foi quebrada.
4- É melhor se arrepender do feito do que do não feito.
5- Contrariando um pouco o item anterior, aprenda a pensar antes de agir, para não se arrepender tanto assim. Não viva pra se arrepender, viva pra agradecer.
6- Seja várias pessoas, mas mantenha sempre a sua essência, é ela que te faz único nesse mundo.
7- Ouça conselhos de pessoas com mais vivência que você. (Mais vivência é diferente de mais idade)
8- Todos os dias descubra o que te faz feliz de verdade.
9- Aprenda a distinguir os momentos só seus dos que precisam ser divididos.
10- Entenda que tudo nessa vida só se aprende com experiência. Você pode saber todas as teorias possíveis – que realmente auxiliam na hora de se guiar – mas só vai comprova-las vivendo.

Eu poderia passar um tempão escrevendo sobre todas as (poucas) coisas que eu (acho que) sei, mas outra coisa que eu aprendi foi a resumir as melhores informações a serem ditas. As “besteiras” você aprende com a experiência né? Não vou acabar com a graça contando tudo.

Vem na paz!

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O Curioso Caso de Benjamin Button

“Para as coisas importantes: nunca é tarde demais para sermos quem queremos ser. Não há um limite de tempo, comece quando quiser. Você pode mudar ou ficar na mesma. Não há regras pra isso. Podemos fazer o melhor ou o pior. Espero que você faça o melhor. Espero que você sinta coisas que nunca sentiu antes. Espero que você conheça pessoas com diferentes pontos de vista. Espero que você viva uma vida da qual se orgulhe. E se você achar que não, espero que você tenha a força para começar tudo de novo.”

domingo, 3 de outubro de 2010

Tati B.

“Eu quase consegui abraçar alguém semana passada. Por um milésimo de segundo eu fechei os olhos e senti meu peito esvaziado de você. Foi realmente quase. Acho que estou andando pra frente. Ontem ri tanto no jantar, tanto que quase fui feliz de novo. Ouvi uma história muito engraçada sobre uma diretora de criação maluca que fez os funcionários irem trabalhar de pijama. Mas aí lembrei, no meio da minha gargalhada, como eu queria contar essa história para você. E fiquei triste de novo.”