...ele me chutou. Com dignidade: me levou para jantar e discursou sobre sua incapacidade de amar — ainda mais uma mulher maravilhosa e incrível como eu. Também fui digna. Somente ouvi tudo e fui pra casa.Desde então, porém, ao encontrá-lo em festas, reuniões ou redes sociais, sempre dou um jeito de comunicá-lo sobre sua ignorância em não me querer. Se não me queria, para que dizer todas aquelas coisas fofas? Se não me queria, por que tantas juras de amor e conchinhas e quentinhos e trocas e momentos lindos? E isso e aquilo e mais um pouco. Hoje em dia, ele, com razão, muda de calçada ao me ver. Não tem nada mais deprê do que cobrar sentimentos do outro. Dá mesmo raiva quando alguém não gosta da gente, mas querer que a pessoa também sinta raiva de si mesma por não gostar da gente é doença. O desgraçado tem o direito de não gostar de mim, assim como tenho o direito de não curtir o tio careca. No entanto, no fundo, bem no fundo, uma vozinha grita: “Direito o cacete! Não sou uma tia careca. Sou legal, bonita!” E quase tenho de me controlar pra não largar este texto na metade e ligar pra dizer que o desgraçado é:
1) metido,
2) arrogante,
3) nojento,
4) escroto.
Com tantas evoluções espirituais, científicas, psiquiátricas, físicas e econômicas, só ficamos mais egocêntricos e infelizes. A verdade é:
1) tio careca, você é um babaca de pensar que eu tenho a obrigação de gostar de você;
2) rapaz que me deu um fora em agosto do ano passado, você é um babaca por não gostar de mim;
3) pelo menos na babaquice, fazemos um belo triângulo amoroso.
2) rapaz que me deu um fora em agosto do ano passado, você é um babaca por não gostar de mim;
3) pelo menos na babaquice, fazemos um belo triângulo amoroso.
Tati B.