sábado, 5 de novembro de 2011

A gente inventa

Um quadro mal acabado só vale quando é póstumo. Isso vale também pros escritores, e pra tantas outras coisas. Porque os valores póstumos se seria mais digno dar valor no momento presente? Picasso que o diga.
Muitos grandes homens morreram sem um grande reconhecimento. Imagine nesse mundão cada pequena estupenda história de vida. Um grande pai de família no interior da Índia, outra grande jovem solitária à beira do Mar Morto, um capial dos pampas, uma senhora viúva em seu casebre no Peru. Levante a noção de espaço, voe com os olhos até os céus e imagine cada canto que se pode chegar, cada história. E cada história no prazer de seu anonimato. Não é aceitável a fabricação de apenas uns contos, modernos, sucessos e cinematográficos insucessos.
Até em relações pessoais os valores são trocados. As mulheres dão valores quando sentem a real perda. Os homens também. Os filhos falam tão pouco que amam as mães, que só decidem dizer quando se dão conta de que a presença materna não é pra sempre. Os mais belos afetos se escondem por detrás das vergonhas e orgulhos. Já tive mais vergonha de dizer que amo. Já tive vergonha de parabenizar alguém por algo. Já tive, sim. Agora, menos.
Quando Deus fez o mundo, fez mal acabado e nos deu o livre arbitrio... Só para termos o delicioso gosto de enfeitar e aperfeiçoar. Se alguém inventou o amor, deve-se usar.
Se ninguém inventou a felicidade, a gente inventa.

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